Resenha (Encontro com Rama - Arthur C. Clarke)






A primeira vez que li o livro “Encontro com Rama”, foi no início da década de 80 época em que seu autor Arthur C Clarke se tornara amplamente conhecido por seus trabalhos “2001 Uma Odisseia no Espaço” e “2010 – O ano em que Faremos Contato”. Na verdade, o público em geral conhece Arthur Clarke bem mais por esses dois romances. De certa forma isso é um pouco lamentável tendo em vista a imensa esteira de produção desse fantástico escritor de Ficção Científica. Durante a pandemia de Covid-19, resolvi ler novamente o livro por duas razões: A primeira porque descobri casualmente que parece que a obra vai virar filme a qualquer momento. A segunda porque percebi que havia esquecido boa parte da história. De fato, o livro "Encontro com Rama" já foi cogitado várias vezes para ser adaptado para o cinema. Em 2003, o diretor David Fincher chegou a ser contratado pela Morgan Freeman's Revelations Entertainment para para dirigir a adaptação cinematográfica do livro, mas o projeto acabou sendo cancelado por divergências criativas. Em 2012, foi anunciado que a produtora de David Fincher, a Scott Rudin Productions, estaria desenvolvendo uma adaptação em formato de minissérie para a Syfy, mas o projeto também não avançou. Apesar dessas tentativas anteriores terem falhado, ainda há interesse em adaptar o livro para o cinema ou a TV. Recentemente, foi anunciado que a produtora "Morgan Freeman's Revelations Entertainment" ainda está trabalhando em um projeto de adaptação para a tela grande, mas não há muitas informações sobre o andamento do projeto. A última informação disponível é que o diretor canadense Denis Villeneuve (Duna) parece ter aceito o projeto do ator Morgan Freeman, que ainda detém os direitos de adaptação da obra. Então, não vale uma resenha?...

 

"Encontro com Rama" é um livro de ficção científica escrito por Arthur C. Clarke e publicado em 1973. A obra é uma aventura fascinante que apresenta uma visão realista e empolgante do contato humano com uma civilização extraterrestre. Com uma escrita fluida e uma trama envolvente, o livro é uma leitura obrigatória para fãs de ficção científica. A história se passa no futuro, em uma época em que a humanidade já colonizou a Lua e Marte e tem bases em diversos planetas do sistema solar. Um dia, astrônomos descobrem um objeto misterioso que se aproxima do Sol. Ao analisarem as informações, eles concluem que se trata de uma nave interestelar extraterrestre, apelidada de Rama, e organizam uma missão para investigá-la. Qualquer semelhança com “Oumuamua” é mera coincidência. O nome "Rama" na história é uma referência à divindade hindu Rama, que é conhecida por ser um avatar do deus Vishnue e é uma figura importante na mitologia indiana. Clarke era fascinado pela cultura indiana e, em diversas obras suas, ele faz referência a elementos desse universo. No livro "Encontro com Rama", o nome é escolhido por ser uma palavra curta, fácil de pronunciar e que soa exótica e misteriosa. Além disso, a escolha do nome Rama pode estar relacionada à ideia de que a nave é uma espécie de "deus tecnológico", uma criação de uma civilização avançada que é adorada pelos seres humanos que a descobrem. De certa forma, a escolha do nome é uma forma de enfatizar a magnitude e a importância do objeto que os exploradores encontram. A nave é imensa e tem uma forma cilíndrica, com cerca de 50 quilômetros de comprimento e 20 de diâmetro. Os exploradores descobrem que ela é habitável e, aos poucos, vão desvendando seus mistérios. 

A espaçonave terrestre designada para a missão de investigar a nave extraterrestre Rama é a Endeavour. Essa nave é descrita como uma espaçonave tripulada e equipada com tecnologia avançada, capaz de viajar dentro do sistema solar até Rama em um período relativamente curto de tempo. A Endeavour é equipada com um sistemas sofisticados de propulsão, fuselagem robusta com possíveis escudos passivos de proteção contra meteoritos e detritos espaciais, além de uma série de equipamentos científicos avançados que permitem aos exploradores estudar e analisar a nave Rama com precisão. É importante destacar que a Endeavour é uma nave fictícia criada por Clarke para a história, mas ela é descrita de forma detalhada e plausível do ponto de vista científico, o que contribui para a credibilidade da trama. Em outras palavras, nada de torpedos fotônicos escudos defletores ou teletransporte.

A espaçonave Endeavour é comandada pelo Capitão Norton, um experiente astronauta que lidera a missão de investigação da nave alienígena Rama. Norton é descrito como um líder calmo, ponderado e confiante, que é capaz de tomar decisões difíceis em situações de emergência. Ele é um personagem importante na história e é responsável por coordenar as atividades da equipe de exploração e tomar as decisões mais importantes ao longo da missão. Além do Capitão Norton, a equipe da Endeavour inclui outros membros experientes e qualificados, mas, a real impressão é de que o personagem principal é a própria espaçonave Rama. Nesse contexto, nenhum personagem é tão bem explorado quanto Rama e esse é talvez um ponto depreciativo citado por críticos.

Ao longo da missão, já no interior de Rama, os exploradores enfrentam vários desafios, em diversas situações perigosas. Eles também precisam lidar com questões éticas e políticas, como o conflito entre a necessidade de estudar a nave e a possibilidade de perturbar um ecossistema alienígena. Uma das grandes qualidades de "Encontro com Rama" é a forma como Clarke consegue criar um mundo rico em detalhes e plausível do ponto de vista científico. Ele se baseia em conceitos como a relatividade, a gravidade e a astrobiologia para construir uma nave que parece realmente possível. Além disso, ele explora as consequências sociais e políticas de um evento tão importante como o contato com uma civilização extraterrestre. Embora, a caracterização dos personagens não seja um ponto forte do livro, Clarke consegue criar um certo protagonismo interessante e realista, com personalidades e motivações diferentes. O líder da missão, por exemplo, é um astronauta experiente que se vê diante do maior desafio de sua carreira. Já um dos membros da equipe é um cientista idealista que se preocupa mais com o bem-estar dos seres alienígenas do que com o sucesso da missão. Essas diferenças geram conflitos interessantes e enriquecem a trama. 

       Apesar de todas essas qualidades, "Encontro com Rama" pode parecer uma obra inacabada. Uma das críticas é o final abrupto. O livro termina de forma súbita, deixando muitas perguntas sem respostas. Mas essa é uma característica intrínseca de Arthur Clarke. Para alguns leitores se parece como frequentar um psicanalista que ouve, ouve e ouve e nunca fala nada. A ideia da escrita de Clarke se assemelha ao efeito da psicanálise, ela se fecha com ajuda do leitor. Em outras palavras Clarke abusa em dar liberdade a imaginação dos leitores. Atitude bastante democrática para um escritor. Isso costuma ser mais comum em crônicas e não em romance, mas de fato é uma opção que atordoa os críticos. No romance "Encontro com Rama" de Arthur C. Clarke, não é encontrada nenhuma forma de vida alienígena. Em vez disso, a história se concentra em uma nave espacial gigantesca, que possivelmente foi construída e enviada por uma civilização extraterrestre avançada para explorar o espaço. Embora a nave seja totalmente automatizada e não haja tripulação ou vida a bordo, ela apresenta muitos mistérios e desafios para a equipe de exploração humana. A história se concentra na exploração e descoberta dos segredos de Rama, e não na descoberta de vida alienígena. A nave é descrita como um objeto completamente artificial, com uma estrutura cilíndrica gigantesca e várias câmaras internas que foram construídas para um propósito desconhecido. Fica totalmente a critério da imaginação do leitor criar sua própria fantasia a respeito da possível civilização que criou Rama e do seu propósito. 

            Uma das características preponderantes de Clarke é sua capacidade de descrever a Ficção Científica com base nos fatos científicos de uma forma singular. Em Encontro com Rama, menção especial deve ser dada ao excelente trabalho de descrição de como a força centrífuga pode gerar uma força gravitacional para uma nave cilíndrica em rotação e como isso além de simples resolve uma imensa quantidade de problemas típicos das viagens espaciais de longa duração. É o lado cientista de Clarke operando de forma descritiva. Mas ele também sabia como se desprender disso de forma categórica. A história termina com uma clara violação da terceira lei de Newton, sugerindo talvez que os ramanianos conhecessem a Antigravidade. Isso me faz sentir no divã da psicanálise. Mas quem é o psicanalista agora ...


          Sei que existem continuações dentro do universo de Rama, mas elas são completamente desnecessárias. Encontro com Rama foi criado para ser o que realmente parece ser, incompleto. Mas essa incompletude é sua marca registrada. Se você quiser chorar por isso pode ler as continuações mas eu garanto que isso não vai te satisfazer. Não é como assistir as trilogias de Guerra nas Estrelas. Simples assim ...

 

            Em diversas entrevistas para a TV, Morgan Freeman, admite a dificuldadede criar um roteiro adequado. Todavia ele também insiste em querer passar uma certa garantia de não alterar o enredo da trama, o que é bastante comum nesse tipo de adaptação. Seja lá como for sugiro fortemente a leitura do romance não porque vai virar um filme a qualquer momento, mas porque realmente vale a pena conhecer algo além do ciclo 2001 e 2010 de Arthur C. Clarke.



Por: Antonio Cesar de Oliveira

Itajubá - 13/03/2023

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