O Problema do Tricorder

O Problema do Tricorder – Parte 1

Todo fan de “Jornada nas Estrelas” conhece o famoso dispositivo conhecido como Tricorder. Entre a serie clássica e as series recorrentes, o formato e as potencialidades do Tricorder se apresentaram numa ampla gama de diversificações. Mas foi na série clássica que o dispositivo se consagrou como fundamentalmente necessário a elucidação dos mistérios que permeavam cada aventura dos tripulantes da Enterprise. Bom, todo mundo que conhece um pouco de StarTrek sabe que o Tricorder é um pequeno aparelho capaz de scanear e avaliar condições físicas e químicas do meio ambiente planetário a que o usuário se encontra. A definição da Wikipédia diz que: Tricorder é um dispositivo manual utilizado para digitalizar uma determinada área ou foco de interesse, interpretando e exibindo dados ao usuário após uma varredura, com gravação isolinear de dados em chips. Basicamente, um Tricorder permite fazer leituras de temperatura, pressão, umidade, concentração de gases, radiação, fendas sub espaciais, etc. Tem também o Tricorder médico que auxilia o médico a avaliar o estado de saúde do paciente, revelando condições de urgência e auxiliando no diagnóstico. 
Confesso que durante muitos anos de minha vida me apliquei no pensamento de que um Tricorder poderia sair do mundo ficcional de StarTrek e se tornar um instrumento real e de extrema utilidade aqui mesmo na terra. Confesso inclusive que fiz algumas tentativas de construir um Tricorder nas décadas de 80 e de 90. Entretanto, até a primeira década do segundo milênio não existia a tecnologia necessária para construir um Tricorder portátil e pequeno o suficiente para ser transportado facilmente a tira colo. Então talvez por essa razão, o problema do Tricorder nunca foi efetivamente abordado como um problema de fácil solução. Fica ainda mais complicado se pensarmos em potencialidades do tipo: Concentração de Argônio e Criptônio na atmosfera, análise do de DNA alienígena, detecção de órgãos internos em alienígenas. Isso para citar algumas coisas realmente difíceis dentro do nosso arcabouço tecnológico e científico. Para ser honesto, antes dos anos 2000, qualquer um que dispendesse tempo com isso estaria efetivamente desperdiçando tempo. Desde então, as coisas mudaram significativamente com o surgimento dos microcontroladores para sistemas de prototipagem. O mais conhecido atualmente é o sistema Arduino que permite entre um sem números de aplicações, a construção de um Tricorder realmente efetivo. Interessante como uma coisa leva a outra e outra e outra. O surgimento dos microcontroladores levaram ao surgimento de uma linguagem de programação de abordagem pratica e quase universal, além do que possibilitou a inserção de sensores que passaram a serem concebidos em tamanhos cada vez menores. O fato é que subitamente, a tecnologia estava lá, disponível e ao acesso de qualquer um que se atrevesse a utiliza-la. Paralelamente, os telefones celulares evoluíram em portabilidade e capacidade de processamento. Surgiram então os apps e a internet das coisas, que potencialmente criou os Tricorders virtuais. O usuário convencional não conhece o termo, mas basicamente o que ele possui é um Tricorder com funções específicas que interessam a ele, juntamente com um intercomunicador que é propriamente o telefone celular. Nesse contexto, já vivemos no ambiente de StarTrek. Existe até um celular produzido pela SCIO que é capaz por si só, de fazer espetroscopia de alimentos e compostos orgânicos fornecendo curvas de absorção, quantidade de calorias entre outras informações interessantes. Isso tudo nos leva a uma questão; para que serve um Tricorder aqui na terra. A raiz dessa questão bem como tudo que se relaciona com sua possível resposta está intrinsicamente ao que nossos sentidos podem ou não detectar. No contexto de StarTrek, os exploradores utilizam o Tricorder como instrumento padrão para obtenção de dados geoclimáticos das regiões alienígenas visitadas. Mas também, usam o Tricorder como scanner de anomalias de espaço-tempo de forma a desvendar mistérios que compõem a trama do episódio. Ou ainda, análise de formas de vidas alienígenas através de suas variantes observáveis. Por incrível que pareça, um Tricorder real em nosso mundo real, mesmo estando presos ao nosso planeta terra, teria exatamente as mesmas utilidades resguardando é claro suas potencialidades. Então antes de mais nada, deixemos bem claro algumas diferenças entre realidade e ficção. Primeiro, não sabemos nada sobre possível vida alienígena, portanto não temos nenhuma base para detecta-la. Segundo, não conhecemos nem definimos nada semelhantes a fendas espaciais, canais sub espaciais ou qualquer singularidade estranha de espaço-tempo. Deixando essas coisas indefinidas de lado, vamos analisar um Tricorder com as seguintes capacidades de detecção; temperatura, pressão, umidade, altitude, ponto de condensação da agua, campo magnético local, campo elétrico local, aceleração, força gravitacional, radio frequência, micro-ondas, velocidade do vento, distancia de objetos até 100 metros, tamanho de objetos a distancia, temperatura de objetos distantes, espetroscopia básica a distancia, infrassons, radiações alfa beta e gama, concentração de gases orgânicos, concentração de álcool ou acetona, concentração de dióxido de carbono, concentração de monóxido de carbono, concentração de oxigênio, concentração de ozônio, intensidade de luz branca, nível de radiação ultra violeta, composição de espectro solar, vídeo câmera e termo câmera. Ainda é possível acrescentar mais algumas coisinhas, mas essa já é uma lista significativamente grande de coisas que um Tricorder real pode fazer. Pense nas possibilidades; pode ser um excelente instrumento de apoio para campistas, escoteiros, exploradores em geral. Entretanto, poderia ser muito útil no dia a dia para análise de condições físico-químicas de ambiente de trabalho, tais como; radiação, nível sonoro, radio frequência etc. Com todas essas possibilidades disponíveis a mão em um único instrumento eu não deixo de pensar no passado com certa ironia. Quando a nave Apolo 11, no foguete Saturno V, partiu em direção a lua tudo que os astronautas dispunham em termos de sensores estava fisicamente acoplado a estrutura da nave. Todos os recursos computacionais não ocupavam mais do que 2Kb de RAM e talvez o instrumento mais importante, que pesava cerca de 23 quilos, fosse o radar para medida de altitude. Um pouco mais adiante no tempo, no inicio da era dos ônibus espaciais, cada astronauta carregava no bolso do macacão uma calculadora HP programável. Por essa época, isso era o máximo de miniaturização e sofisticação para um viajante espacial. Qualquer calculadora cientifica que você compra hoje por algumas dezenas de dólares é imensamente superior. Contudo, nada como um Tricorder evoluiu no sentido aplicativo para astronautas ou cosmonautas. Mas isso é fácil de explicar tendo em vista que em nosso atual estágio da exploração espacial, toda a sensorização faz parte da própria espaçonave ou no caso da estação espacial. Os astronautas da terra ainda não saem das naves para explorar planetas desconhecidos. Mas é muito provável que os futuros exploradores de Marte usarão algo bem parecido com um Tricorder.
Bem, voltando a realidade atual, fui capaz de construir recentemente um dispositivo muito semelhante a um Tricorder utilizando uma placa de processador Arduino Mega e uma sequencia de sensores quase tão abrangente quanto a listagem definida no paragrafo anterior. Trata-se de um protótipo que denominei Tricorduino 1.0 e cujas dimensões são bastantes próximas das dimensões do Tricorder original exibido na serie clássica de “Jornada nas Estrelas”. Como se trata de um protótipo, ainda estou avaliando as potencialidades do sistema. Estou preparando uma serie de testes prolongados para cujos resultados estarei disponibilizando para uma próxima publicação. Eventualmente irei disponibilizar os diagramas, circuitos e programas. Por enquanto, apreciem as fotos.








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